31 de Out de 2020 - 4 min

Especialista brasileiro volta de Paris trazendo novidades e avanços em Carcinomatose Peritoneal

O evento reuniu profissionais do mundo inteiro ao redor do debate sobre diagnóstico, prevenção e tratamento de tumores com disseminação peritoneal.
Especialista brasileiro volta de Paris trazendo novidades e avanços em Carcinomatose Peritoneal

Nos dias 9 e 10 de setembro, a capital francesa sediou o 11º Congresso Internacional de Tumores de Superfícies Peritoneais - PSOGI 2018. O evento, dedicado aos profissionais que lidam com a carcinomatose peritoneal e doenças do peritônio, teve o objetivo de oferecer o melhor tratamento e mais qualidade de vida aos pacientes com tumores peritoneais, por meio do debate de estudos e casos clínicos dos principais serviços de diferentes países.


Entre os mais de 800 participantes, de 40 diferentes países, em sua grande maioria europeus, esteve o Dr. Arnaldo Urbano Ruiz, cirurgião oncológico especializado em doenças do peritônio, do centro de carcinomatose peritonial.


“Foram dois dias de discussões sobre a carcinomatose peritoneal das principais indicações de cirurgia, que são os tumores colorretal, pseudomixoma, mesotelioma primário de peritônio, ovário e situações raras, nas quais citorredução pode ser indicada com ou sem hipertermia”, afirma o especialista.

A carcinomatose peritonial é a disseminação de um câncer pela cavidade abdominal. A doença sai de seu órgão de origem e se espalha pelo peritônio, membrana de revestimento interno do abdome.  A carcinomatose pode se originar em órgãos como ovário, apêndice, intestino grosso (colón), reto, pâncreas, estômago, mama e, também, primariamente do peritônio.


Prodige 7

Nesse congresso, foram apresentados os resultados do Prodige 7. O estudo francês é uma colaboração de vários centros e foi representado por seu principal investigador, Dr. Olivier Glehen.

O estudo avaliou pacientes com carcinomatose peritonial, de sitio primário colorretal, submetidos à citorredução. Metade deles foram tratados somente com cirurgia e a outra metade com cirurgia associada à quimioterapia hipertérmica, com oxaliplatina na hora da cirurgia. Ambos os grupos receberam quimioterapia endovenosa.

​O resultado foi que não houve diferença na sobrevida global dos dois grupos, demonstrando não ser necessário, nessa situação, realizar a quimioterapia intraperitoneal (HIPEC) na hora da cirurgia, mas somente a cirurgia. Talvez, com a utilização de mitomicina no lugar da oxaliplatina, utilizada no estudo, os resultados pudessem ter sido diferentes. Por este motivo, enquanto novos estudos não forem realizados, hoje, para o câncer colorretal, a indicação é apenas a cirurgia citorredutora, sem HIPEC”, explica o Dr. Arnaldo.

Prevenção da carcinomatose

Uma das principais novidades do Congresso está relacionada a doenças em estágio avançado, com alto risco para desenvolver a carcinomatose, com é o caso do câncer de intestino com metástase ovariana, ou do tumor de cólon que já apresenta infiltração na serosa, que é o revestimento externo dos intestinos.

O Dr. Arnaldo revela que, mesmo nestes casos, os trabalhos com foco na prevenção da carcinomatose foram negativos.

“Ainda não há evidências de benefícios da quimioterapia para prevenção da carcinomatose. Outros estudos, com outros protocolos e outras drogas são necessários para avaliar estes resultados e verificar se as orientações devem ser mantidas. Enquanto não houver novos estudos, o tratamento do câncer de intestino com carcinomatose será realizado exclusivamente por meio da citorredução, sem a quimioterapia hipertérmica.”

Câncer de ovário

Outro debate bastante importante aconteceu em torno do tratamento do câncer de ovário. As indicações de cirurgia primária, quimioterapia antes da cirurgia ou, ainda, a utilização da quimioterapia hipertérmica (HIPEC) foram discutidas entre especialistas de diversos serviços, como o Memorial Sloan Kettering, um dos principais serviços de referência no tratamento do câncer, localizado em Nova Iorque, Estados Unidos.

A conclusão, até o momento, é que a quimioterapia intraperitoneal parece influenciar positivamente na sobrevida dos pacientes com câncer de ovário, portanto é uma possibilidade que deve ser avaliada pelos especialistas.


Pseudomixoma peritonial

O pseudomixoma peritonial é um tumor considerado raro, ao lado do mesotelioma. Isso porque, são mais comuns os casos de carcinomatose colorretal ou ovariana. No entanto, os casos podem ser encontrados especialmente em centros de referência, com os hospitais em que atua o Dr. Arnaldo.

“Tanto o pseudomixoma quanto o mesotelioma se beneficiam do tratamento com quimioterapia hipertérmica associada à cirurgia citorredutora, desde que haja indicação. Por este motivo, especialmente nestes casos, é de suma importância que o paciente esteja em um hospital e com uma equipe com larga experiência no assunto”, alerta.

Segundo o Dr. Arnaldo, no Congresso foram bastante comentados os casos de pacientes operados em instituições menores, com menor experiência, reduzindo as chances de se conseguir uma cirurgia ideal, com piores resultados.  

“Estes tumores raros, assim como na carcinomatose peritoneal e doenças do trato gastrointestinal e ginecológicas, a cirurgia citorredutora tem um papel fundamental e pode trazer benefícios ao paciente”.

Convidado especial


Uma das presenças mais aguardadas no PSOGI 2018 foi a do cirurgião norte-americano Dr. Paul H. Sugarbaker, que desenvolveu a técnica de quimioterapia quente no abdome no intra-operatório, chamada quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (HIPEC).

Com a ressecção do peritônio doente e dos demais órgãos que possam estar acometidos, alguns pacientes chegam à cura da carcinomatose. Outros, podem ser beneficiados com sobrevidas muito mais longas.


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