31 de Out de 2020 - 4 min

Especialista brasileiro revela pontos principais do PSOGI 2019

O evento, realizado na Grécia, na última semana, reuniu cirurgiões oncológicos e outros especialistas para atualizações sobre câncer de ovário e a carcinomatose peritoneal.
Especialista brasileiro revela pontos principais do PSOGI 2019

Encerrado no último dia 13 de abril, o Simpósio Internacional PSOGI 2019, em Atenas, Grécia, teve como tema o câncer de ovário, que segue sendo o tumor ginecológico com maior taxa de mortalidade em todo o mundo.


Combinando inovações científicas e prática diária de especialistas do mundo inteiro, o PSOGI promoveu um ambiente estimulante e multidisciplinar, com sessões que englobaram diagnóstico e tratamentos, como a cirurgia citorredutora e a quimioterapia perioperatória.


“Foi um congresso inteiramente dedicado ao tratamento da carcinomatose de sítio primário ginecológico, no caso, de câncer de ovário”, explica o Dr. Arnaldo Urbano Ruiz, cirurgião oncológico especializado em doenças do peritônio, que esteve no evento.

Segundo o especialista, a atualização de médicos de diferentes especialidades sobre este tema é de suma importância, visto que não apenas no Brasil, mas em várias partes do mundo, o oncologista clínico muitas vezes não conta com um cirurgião especializado para realizar a cirurgia de carcinomatose, seja ela para ovário ou para outras indicações de citorredução.


“No caso específico do ovário, geralmente este tipo de cirurgia é realizada por oncoginecologistas, que são ginecologistas especializados em oncologia, ou cirurgiões oncológicos, que são os cirurgiões que, após formados, cursam dois anos de cirurgia geral e mais três anos de cirurgia oncológica. Com esta formação, estes profissionais atuam no tratamento de tumores ginecológicos, bem como de tumores do aparelho digestivo ou outros tipos de afecções.”




Cirurgia x quimioterapia


No congresso, muito se falou sobre as especificidades do câncer de ovário. Um dos pontos discutidos foi o fato desta doença não dever ser classificada como um tumor da pelve.


“A doença pode evoluir para a carcinomatose, ou seja, se espalhar, afetando diversos órgãos, tanto do andar alto como do andar baixo do abdome. Por este motivo, a cirurgia precisa ser realizada com um profissional que conheça todas as técnicas, para que consiga fazer a citorredução, que será o ponto fundamental na cura ou na sobrevida destas pacientes”, explica o Dr. Arnaldo.

Quando existe a possibilidade de realizar uma cirurgia adequada, a quimioterapia passa a ser auxiliar e não o principal tratamento para o paciente. No entanto, há muitos casos em que o paciente com diagnóstico de carcinomatose peritoneal recebe do oncologista clínico a indicação de quimioterapia paliativa, por não ter acesso a um cirurgião especializado.


“Todos os esforços devem ser feitos para que o paciente com indicação tenha uma cirurgia ótima, ou seja, que a doença seja totalmente retirada, aumentando substancialmente sua sobrevida ou até mesma as chances de cura da carcinomatose de sítio primário ovariano.”

Teste genético e o câncer de ovário


O Congresso PSOGI 2019 também discutiu as mutações genéticas associadas ao aumento do câncer de ovário, como é o caso da mutação do gene BRCA 1.


“O gene BRCA 2, a síndrome de Lynch, também chamada de câncer colorretal hereditário, e a síndrome de Li-Fraumeni (SLF), que aumentam o risco de câncer de ovário, são outras síndromes genéticas também associadas ao aparecimento da doença, mas não tanto quanto a mutação do BRCA1”, revela o especialista.

Para a paciente que, após teste genético, recebeu a confirmação da mutação de BRCA 1 ou BRCA 2, a cirurgia profilática deve ser realizada com algumas ressalvas importantes.


“Durante a laparoscopia, é importante observar atentamente toda a cavidade abdominal, colher citologia oncótica de rotina e retirar o ovário e as tubas uterinas com as fimbrias. Se houver aderência do peritônio ao ovário, esta também deverá ser retirada em monobloco, pois é possível que já haja alguma área de carcinomatose.”

Tumor primário de ovário


Ainda no simpósio, ficou claro que é importante diferenciar dois comportamentos biológicos aparentemente semelhantes: o tumor papilífero primário de peritônio e o de ovário.


“Sabemos que a faixa etária de acometimento do tumor primário de peritônio é diferente daquela verificada no tumor primário de ovário. Além disso, os tumores primários de peritônio têm um prognóstico pior que os de ovário e as técnicas cirúrgicas para tratamentos são distintas. Por este motivo, é muito importante fazer esta diferenciação. "

Interatividade


Outro assunto bastante discutido foi a interatividade entre as diferentes especialidades envolvidas no tratamento do paciente oncológico.


“Nem sempre o ginecologista oncológico está acostumado a lidar com o andar alto do abdome, mas muitas vezes é necessária a realização de uma esplenectomia, ou tratamento de doença entre o baço, o fígado ou o estômago. Nestes casos, é importante que ele se associe a um cirurgião oncologista, ou que realize aperfeiçoamento profissional em um centro de doenças peritoneais”, orienta o Dr. Arnaldo.

As doenças do peritônio, afirma o especialista, são doenças complexas, que não envolvem um único órgão.


“Não é porque começou no ovário que é uma doença ginecológica, ou porque começou no intestino, é uma doença colorretal. A doença pode se espalhar pela cavidade abdominal e o cirurgião tem de estar preparado para lidar com esta evolução.”

O cirurgião do peritônio, que embora não seja considerada uma área de atuação, é o profissional capacitado para atuar diante da complexidade destes tratamentos. Este profissional pode ser importante no momento da indicação da cirurgia e da forma de selecionar o paciente ideal, pois nem todos terão indicação para a cirurgia.


“A presença de um cirurgião especializado em doenças peritoneais, ligado a um serviço de referência nesta área, poderá aumentar a qualidade do atendimento e oferecer o melhor prognóstico ao paciente.”


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